Apoiadores de Bolsonaro sobem tom contra Maia pós-votação da Previdência

Em abril deste ano, eu e a repórter Anna Virginia Balloussier reunimos um grupo de apoiadores de Bolsonaro na Folha para um bate-papo sobre o início do governo. Ficamos de conversar novamente sempre que houvesse algum acontecimento importante. E, bem, poucas coisas são mais importantes do que a reforma da Previdência.

Desta vez, a conversa foi virtual, via WhatsApp. E, pelo que foi possível perceber, quem imaginava que a vitória representaria algum tipo de trégua entre o presidente e a Câmara (personificada por seu presidente, Rodrigo Maia) se engana. Nas fileiras ultrafiéis ao capitão, o racha e a desconfiança parecem na verdade ter se ampliado.

Um bom exemplo é o que diz a assessora parlamentar Stefanny Papaiano, integrante do grupo Direita SP, ao comentar o choro de Maia no plenário da Câmara. “Eu achei que ele chorou foi de alívio, e fez discurso a fim de esconder toda a manobra que promoveu para desidratar a reforma do Paulo Guedes [ministro da Economia]”.

Ou seja, para ela, longe de ter ajudado na aprovação, como tem propagandeado, Maia na verdade atrapalhou. “Acho que ele está tentando levar um crédito que não é dele”, afirma.

O estranhamento entre Maia e o presidente vem praticamente desde o início do mandato. Na visão do presidente da Câmara, o empenho do Legislativo em geral (e do “centrão” em particular) compensou a desastrosa articulação política do Planalto. Aprovada a reforma, a guerra para obter o crédito pelo sucesso é evidente. E como pano de fundo, claro, está a eleição presidencial de 2022.

“A obrigação dele [Maia] era pautar, mas quem fez a articulação foi o governo. Ele só ajudou a desidratar”, afirma o estudante Matheus Galdino, que tem dúvida se o presidente da Câmara terá fôlego para disputar o Planalto daqui a pouco mais de três anos.

“O Botafogo da Odebrecht tem a empatia de uma couve”, acrescenta Papaiano, lembrando o codinome de Maia nas planilhas da Odebrecht.

Para os defensores de Bolsonaro, mais do que um suposto poder de articulação de Maia, pesou na aprovação das reformas a pressão das ruas. A defesa da nova Previdência foi tema de manifestações em 26 de maio e, de forma mais diluída, em 30 de junho.

“A pressão popular demonstrando que Bolsonaro ainda tem capital político a queimar foi essencial para o andamento da questão”, disse o estudante Jonas Buccini. Para ele, Rodrigo Maia apenas cedeu e cumpriu seu papel como presidente da Câmara. “Todo o mérito é do povo, de Bolsonaro e da equipe econômica”, acrescentou.

Empresário, Raphael Daniele diz que Maia não reúne condições de estabelecer uma agenda própria. “O Maia não tem apoio popular”, afirma. Pior, em sua visão: talvez seja uma espécie de “tábua de salvação da esquerda” (o presidente da Cãmara tem relações amistosas com diversos deputados de PT, PC do B e PSOL).

Para Daniele, a disputa ideológica no país está apenas começando. “A batalha ainda não acabou. Serão obrigados a colocar o país em um trilho de direita, tanto quanto este governo for fiel a esse objetivo”, afirma.