Ser dona de casa é um direito e paridade salarial tem limite, diz antifeminista

Fábio Zanini

Santa Maria (RS) – Existem mulheres de direita? Mulheres liberais? Claro que sim. Mas às vezes elas parecem um tanto invisíveis, ao menos em posições de destaque.

Na efervescência de novas organizações e institutos da direita liberal surgidos nos últimos anos, é raro ver uma mulher no comando. Encontrei uma em Santa Maria (RS), cidade de 280 mil habitantes no centro do Rio Grande do Sul.

Nêmora Schuh, 20, preside o Clube Farroupilha, fundado em 2013. Formado sobretudo por jovens universitários ou recém-formados, dedica-se a propagar o liberalismo na economia e nos costumes. Faz parte de uma rede internacional, a Students for Liberty, e promove seminários e debates na cidade. Seu principal evento anual é o Simpósio Interdisciplinar Farroupilha, todo mês de novembro.

Alguns ex-dirigentes do clube já empreenderam voos mais altos. Giuseppe Riesgo é deputado estadual gaúcho pelo Novo; Gianluca Lorenzon é diretor da Secretaria Especial de Desburocratização no Ministério da Economia.

Estudante de Direito na Universidade Federal de Santa Maria, Nêmora se descobriu liberal na adolescência. Começou a ler por conta própria os teóricos da Escola Austríaca, defensores do Estado mínimo na economia. “Aos poucos fui entendendo que liberal não é o cara que chuta mendigo e escraviza crianças. O liberalismo tem uma pauta maior, não agressiva”, diz.

Começou a participar do Farroupilha em 2017 e se tornou presidente em outubro do ano passado (substituindo, aliás, outra mulher).

Para Nêmora, mulheres liberais são exceção porque o discurso emotivo da esquerda tem um impacto maior sobre o sexo feminino.

“As mulheres liberais tendem a ser mais frias, mais objetivas. De uma forma geral, a mulher é criada de uma forma emotiva. E a emoção leva à esquerda”, diz.

Hoje, a pauta das mulheres está fortemente associada à esquerda, o que faz das feministas alvos preferenciais da direita. “Outro dia entrou um grupo de feministas na sala de aula para anunciar três dias de um evento sobre a condição da mulher. Só que no primeiro dia não podiam participar homens. Um absurdo!”, diz.

A agenda feminista, afirma Nêmora, é atrasada, por querer colocar a mulher acima dos homens e ter uma atitude autoritária. “O que me dá pavor é ver mulheres sendo criticadas porque querem ser donas de casa”.

Em uma pauta clássica das mulheres, o direito ao aborto, ela, como liberal, não tem divergências com suas adversárias (embora na direção do Clube o tema não seja consensual). Em outra, a da paridade de salário entre os gêneros, suas opiniões provocariam calafrios nas feministas.

“Eu sou favorável a salários iguais para homens e mulheres desde que o custo para as empresas seja igual”, afirma. O problema, diz ela, é que nem sempre isso acontece.

“Quando a mulher engravida ou tem que cuidar de um filho pequeno, isso gera um custo maior para o empregador. É óbvio que a empresa vai preferir contratar um homem”, diz.

Sobre a gestão Bolsonaro, ela reprova o tom conservador predominante e é especialmente refratária às posições do filósofo Olavo de Carvalho. “A gente faz um esforço enorme pra mudar a imagem de que a direita é arrogante, daí vem o Olavo de Carvalho e acaba com tudo”, afirma.

Mas com várias pautas do governo ela está de acordo, como a agenda econômica e a ampliação do direito a armas.

Há quatro anos, Nêmora estava trabalhando no caixa da padaria de sua família, na cidade de Santa Cruz do Sul (RS), quando um assaltante, em plena luz do dia, colocou uma arma em sua cabeça. Mais do que assustada, ela diz que ficou furiosa. “Eu fiquei brava porque ele tinha uma arma naquele momento e eu não”.

Por isso, está só esperando fazer 25 anos, idade mínima prevista em lei, para comprar a sua. “Eu quero muito ter armas. Vai ser o presente de aniversário que darei para mim mesma”, afirma.