Treinamento militar inspirou música de grupo pró-Bolsonaro na Paulista

Ao fim do ato em defesa do governo Bolsonaro deste domingo (26) na avenida Paulista, uma cena chamou a atenção do público que se dispersava.

Em frente à estação do metrô Trianon/Masp, um grupo entoava uma musiquinha descendo a lenha nos alvos principais da manifestação –centrão, Rodrigo Maia e MBL– enquanto pulava numa dança que em alguns momentos lembrava o pogo, frequente em shows punks.

A repórter Carolina Linhares filmou:

Os manifestantes são do Direita SP, grupo conservador, olavista e bolsonarista que vem crescendo desde que surgiu em 2016. Destacam-se por terem diversos membros jovens vindos da periferia de São Paulo. Um deles é o deputado estadual Douglas Garcia (PSL), que no vídeo aparece ao lado de Jhonatan Valencio, o puxador dos versos.

Esta é a letra:

O centrão oportunista quis articular
Disse que sem ministério não iria mais votar
Tá pensando que é o PT, no esquema mensalão
Mas agora é o Bolsonaro, não é mais o Lula, não

Não adianta o MBL tentar manipular
O povão veio pra rua pras reformas aprovar
O presidente tá contando com o apoio da nação
E o MBL oportunista foi vendido pro centrão

Não adianta MBL um golpe articular
O povão está na rua e ao centrão vai pressionar
Maia e Kataguiri abrindo as pernas pro centrão
Fazendo acordo com bandidos e traindo a nação

O povo não vai deixar! Viemos pra lutar por isso!
Bolsonaro eu tô contigo

Jhonatan, 24, um dos coordenadores do grupo e assessor da liderança do PSL na Assembleia Legislativa, é o autor da música, junto com Stefanny Papaiano, 36, também assessora parlamentar (a Stefanny participou de um debate com eleitores de Bolsonaro na Folha em abril).

Segundo Jhonatan, o nome deste estilo musical é “TFM”, sigla para Treinamento Físico Militar. São aquelas canções mais parecidas com gritos de guerra que militares entoam para se exercitar, geralmente correndo. Um puxa e outros repetem (os mais velhos vão lembrar da propagada da cerveja Malt 90, com o refrão “1, 2, 3, 4… 4, 3, 2, 1”).

A dupla bolou a canção na sexta-feira (24) à noite, especialmente para a manifestação. “Quisemos que fosse fácil pra decorar e mostrasse a insatisfação com o centrão e aqueles que se renderam à narrativa deles, como o MBL”, afirma Jhonatan.

A ideia inicial era gravar um vídeo chamando para a manifestação, mas não deu tempo. Então optaram pela rodinha no ato mesmo.

Já a dancinha no final foi totalmente improvisada. “O pessoal ali se empolgou”, afirma Jhonatan, que diz não ter nenhuma formação musical, apenas uma aptidão natural.

Também é coincidência, segundo ele, o fato de haver vários carecas no vídeo, e quase nenhuma mulher. “Havia mulheres também ali, elas só não aparecem no ângulo filmado. Temos muitas mulheres no movimento”, diz.

Jhonatan, no vídeo, usa uma camisa com os dizeres “gays de direita”. Garcia também recentemente se assumiu homossexual, parte de um ainda pequeno, mas crescente movimento de gays que rejeitam o ativismo LGBT e se aproximaram de Bolsonaro.

O Direita SP tinha de 50 a 70 pessoas na Paulista, além de ter participado de manifestações pelo interior de São Paulo.

Não é a primeira vez que o grupo utilizar musiquinhas. Eles têm uma em defesa do projeto Escola Sem Partido, por exemplo. “É como a gente forma os mais jovens. Para nós é normal, a gente sempre trabalhou assim”, afirma Garcia.

A ênfase nos ataques ao MBL não é por acaso. Os dois grupos disputam o mesmo público: jovens de direita atuantes nas redes sociais. À medida que um se distancia do governo Bolsonaro e engrossas as fileiras de uma direita mais crítica, o outro busca ocupar esse espaço.

“O MBL é a expressão da velha política. A população tem demonstrando rejeição a eles, que mudam de posicionamento o tempo todo. Nós sempre apoiamos o Bolsonaro, desde 2016”, afirma Jhonatan.