Quem é o parceiro europeu de Bannon em seu movimento de direita populista
Neste domingo (26), a extrema direita espera avançar numa instituição que ela, paradoxalmente, despreza: o Parlamento da União Europeia, bloco ainda composto por 28 países (enquanto o Reino Unido não oficializa sua saída). Atualmente com 37 parlamentares em um total de 751, os ultradireitistas podem passar de 100 dessa vez.
Acompanhando com atenção a apuração das eleições para eurodeputados estará um advogado belga que se tornou um líder direitista radical em seu país e só não virou uma referência europeia porque as coisas estão andando mais devagar do que ele gostaria.
Seu nome é Mischael Modrikamen, tem 53 anos e é o parceiro europeu do americano Steve Bannon na até agora quixotesca empreitada de formar uma aliança global de partidos de extrema direita chamado The Movement.
Bannon, que se tornou conhecido por ter sido estrategista da campanha presidencial de Donald Trump em 2016, já nomeou Eduardo Bolsonaro como coordenador do movimento na América Latina.
Modrikamen é o fundador do Partido Popular, uma legenda pequena, que tem obtido entre 1% e 2% dos votos em eleições na Bélgica desde sua fundação, em 2009. No Parlamento nacional do país europeu, tem apenas 1 deputado. Na última eleição para o Legislativo europeu, ficou com 2,18% dos votos e não elegeu ninguém.
Mas ele tem uma certa influência em círculos da direita europeia que extrapolam essa magreza eleitoral. Foi vice-presidente do grupo Aliança para a Democracia Direta na Europa, que reúne partidos ultraconservadores do continente. Na Bélgica, é editor do jornal Le Peuple (O Povo), porta-voz de ideias da direita radical.
Pedi à assessoria de Modrikamen uma entrevista, mas não tive resposta (quer dizer, tive uma promessa, mas depois o assessor sumiu).
Em março, ele deu uma entrevista à emissora britânica BBC, em uma mansão em Bruxelas que seria a sede do The Movement na Europa, com uma cachorrinha chamada Thatcher e tudo.
“[The Movement] é um clube em que todos os líderes populistas podem se encontrar, conversar, dar apoio mútuo quando necessário”, explicou ao jornalista.
Ele relembrou o primeiro encontro que teve com Bannon em 2018. Os dois foram apresentados por Nigel Farage, ex-líder do Partido da Independência do Reino Unido, uma das forças por trás do “brexit”, a saída britânica da União Europeia.
“Ele [Bannon] me disse, após nosso primeiro encontro: ‘eu poderia ter completado suas frases, e você as minhas'”, disse Modrikamen. Ou seja, o primeiro encontro deu “match”.
Na entrevista, Modrikamen admite que o “Movement” ainda está um tanto desorganizado, com poucos partidos aderindo, o mais importante deles a Liga, do vice-premiê italiano, Matteo Salvini. Diz que eles não pretendem ser uma entidade política global, mas sim uma espécie de fórum permanente para propagar suas ideias.
E que ideias são essas? A principal é o resgate dos valores tradicionais europeus e a preservação da cultura judaico-cristã, protegendo-a sobretudo da influência do islã. Imigrantes, diz Modrikamen, até podem viver na Europa, desde que se adequem aos valores e ao modo de vida ocidental.
Mas para que a cultura europeia não seja diluída, o principal instrumento é o controle do fluxo imigratório, sobretudo do norte da África, do Oriente Médio e do sul da Ásia.
No mês passado, Salvini anunciou a criação de uma frente de partidos de extrema direita europeia (ou populistas, como eles preferem ser chamados) com líderes de Alemanha, Finlândia e Dinamarca.
Como eu disse no começo desse texto, há um certo paradoxo aí: os extremistas se opõem ao projeto europeu, mas não abrem mão de ocupar os espaços institucionais desse mesmo projeto.
O grupo capitaneado por Salvini seria o embrião de um bloco no Parlamento europeu que poderia contar também com líderes como a francesa Marine Le Pen e o premiê húngaro, Viktor Orbán.
Não se falou no The Movement na ocasião, o que levanta dúvidas sobre o quanto o grupo está sendo levado a sério por políticos mais gabaritados.
De qualquer forma, domingo será um dia importante para a estratégia de longo prazo para Modrikamen, até por um motivo pessoal. Sua mulher, Yasmine, é a primeira da lista de candidatos do Partido Popular para o Parlamento europeu.
Quanto ao amigo de Bannon, prefere continuar atuando nos bastidores, e tentando fazer o Movement finalmente decolar.