Defesa de armas vai de liberais do Estado mínimo a marxistas do PCO

Fábio Zanini

Não são apenas Jair Bolsonaro e a bancada da bala que querem facilitar o porte e a posse de armas.

A defesa de maior acesso a revólveres, pistolas e fuzis pela população talvez seja o único tema do mundo que junte, por exemplo, liberais defensores do Estado mínimo e um partido de extrema esquerda, o PCO (Partido da Causa Operária).

Presidente do Instituto Mises Brasil, Hélio Beltrão comemorou o recente decreto de Bolsonaro ampliando as possibilidades de porte de arma.

“O decreto é um enorme avanço. Ele é amplo, atinge muitas áreas, e como liberal acredito que quem tiver condições e passar nas qualificações previstas na lei, como exame psicotécnico, antecedentes etc. deveria ter direito a ter armas”, afirma.

A perspectiva de Beltrão é a de que o direito de o cidadão se defender de uma agressão é inalienável, no mesmo nível de outros como à livre expressão e à manifestação política, por exemplo. Liberais como ele ressaltam mais este princípio do que os efeitos sobre a criminalidade, e passam longe do slogan “bando bom é bandido morto”, de gente mais ligada à área de segurança pública.

Outros grupos liberais, como o Livres e o MBL seguem na mesma linha, embora não desprezem o impacto que as armas possam ter na situação de segurança.

Banner do MBL defendendo decreto pró-armas de Bolsonaro (Reprodução)

Beltrão, por exemplo, destaca o que chama de “efeito aura”. “Hoje se você entrar num ônibus, a chance de ter um policial ou alguém com arma é muito pequena. Mas com esse decreto, ela aumenta. O fato de ter uma pessoa em 40 ou 50 já protege todas. O ladrão sabe disso, ele faz o cálculo sobre o risco de ter um problema. Hoje ele faz a festa porque ninguém pode ter arma”, afirma.

No outro extremo, o PCO, partido nanico de orientação marxista, achou que Bolsonaro foi tímido demais em seu decreto. Seus dirigentes defendem que toda a população possa andar armada. Sua tese: apenas assim os trabalhadores poderão resistir à opressão dos patrões e do Estado.

“Ter armas é um direito democrático. A população não pode ficar refém de uma burocracia estatal para se defender”, diz Natália Pimenta, da direção nacional do partido. Segundo ela, a Constituição americana, que assegura o direito de uso de armas, é um bom parâmetro.

O partido também é contra estabelecer condições para liberar o acesso, como exames e testes. “A gente sabe que esses critérios não são necessariamente técnicos”, afirma.

O PCO discorda do decreto de Bolsonaro, mas pelos motivos opostos ao do restante da esquerda: para o partido, o presidente foi muito restritivo.

“O decreto mantém a maioria da população de fora. É bastante seletivo e em geral favorece setores de classe média e classe média alta”, diz Pimenta. “Você acha que o governo permitiria que os milhões de sem-terra se armassem?”, pergunta ela.

Para o partido, as outras legendas da esquerda estão sendo incoerentes ao criticarem o desarmamento. “É uma posição que não é a tradicional do movimento operário e revolucionário”, diz a dirigente.