Guerra entre fabricantes de pistolas vem à tona em feira de armas no Rio
Rio de Janeiro – A primeira visão de quem chegava à Laad, maior feira de produtos de defesa e armamento da América Latina, que terminou na última sexta-feira (5) no Rio, era proporcional ao tamanho da principal briga em curso hoje no setor.
Um stand enorme da fábrica de pistolas Taurus dava as boas-vindas aos visitantes do evento, no centro de convenções Riocentro. Dezenas de pessoas se aglomeravam para empunhar um dos vários modelos ali expostos, fazendo poses e tirando selfies.
Ao lado, um stand quase do mesmo tamanho era ocupado pela austríaca Glock, uma das principais candidatas a desafiar o virtual monopólio que a Taurus tem hoje sobre o mercado nacional.
Em outros pontos da feira, havia espaços também para empresas loucas para abocanhar uma parte do mercado nacional, como a suíço-alemã Sig Sauer e a americana Smith & Wesson.
Por enquanto, elas estão praticamente excluídas, dado que obter autorização para operar no Brasil depende do Exército e de uma série de regulamentações que na prática garantem uma reserva de mercado para a gaúcha Taurus.
Apenas clubes de tiro conseguem autorização para importar armas. Já houve também algumas licitações internacionais de órgãos de segurança em que as estrangeiras puderam participar. Mas há um longo caminho a percorrer até a abertura de mercado, algo que o presidente Jair Bolsonaro promete promover.
Uma rara empresa a conseguir furar o bloqueio é a Imbel, que, por ser estatal, está em posição privilegiada para vender seus armamentos para o Exército e polícias estaduais. Apenas 20% de sua produção é para consumidores privados, no entanto.
A empresa, uma das poucas na Laad a atender a meus pedidos de entrevista, enxerga potencial de crescimento de 10% a 20% nesse ano em razão do recente decreto do presidente Jair Bolsonaro facilitando as regras para posse de arma. “Está havendo mais procura pelo cidadão comum”, diz Marcelo Muniz, assessor de comunicação da Imbel.
A empresa não detalha números de sua produção, mas admite que sua escala é bem menor que a da Taurus. “O decreto deu uma pequena mexida no mercado, mas para nós já faz diferença. Agora, para haver uma explosão de demanda, seria preciso medidas mais profundas para facilitar o acesso e o porte de armas”, afirma Muniz.
A Imbel, diz ele, é favorável à abertura de mercado, desde que as estrangeiras se instalem no Brasil fisicamente, com fábricas, e sujeitas às mesmas condições das empresas nacionais (inclusive carga tributária e legislação trabalhista). Essa é a posição da Taurus também.
Conversei com representantes de outras estrangeiras, que, reservadamente, me disseram que estariam dispostas a construir fábricas no Brasil, assim que isso for permitido.
Pelo interesse que vi na Laad, mercado haverá. O pequeno stand da Smith & Wesson, incomparavelmente menor do que a da Taurus, estava o tempo todo cheio. A marca americana tem um apelo especial para quem gosta de armas.
Fundada em 1852, é a arma dos filmes de caubói e da conquista do oeste americano. Produz um modelo com aquela clássica roleta no meio da arma em que as balas são colocadas uma por uma. Mas atualmente só podem vender no Brasil o calibre 22, que não tem similar no mercado nacional. O calibre 38, filé mignon do setor, tem reserva para brasileiros.
Outra marca lendária também tinha um espaço modesto na feira, mas atraía muita gente. Uma subsidiária americana da Kalashnikov russa expôs versões do AK-47, talvez a arma mais famosa do século 20. Também estão esperando licença do governo para poder vender no Brasil.
“Temos recebido muitas demonstrações de interesse de polícias militares, Polícia Federal e guardas municipais”, diz Eduardo de Barros, vice-presidente de operações da Kalashnikov EUA, fundada em 2014. Atualmente, apenas colecionadores, atiradores e caçadores podem importá-la.
“Por ora, é muito cedo para fazer um planejamento para o Brasil. É preciso esperar o que vai acontecer com o mercado”, afirma Barros.
Os próximos meses devem ver novos lances nessa disputa. Dependerá, dizem todos, do empenho pessoal de Bolsonaro em mexer num mercado que é dos mais engessados da economia.