Aliados de Olavo de Carvalho terão braço no movimento estudantil
Nesta sexta (15), a improvável trajetória de Douglas Garcia, 25, da favela do Buraco do Sapo, na divisa de São Paulo com Diadema, para um gabinete na Assembleia Legislativa paulista se completa.
Não satisfeito, no dia seguinte à sua posse como deputado estadual pelo PSL, ele será um dos organizadores do evento de criação de uma nova entidade estudantil, assumidamente pró-Jair Bolsonaro e alinhada com o conservadorismo de Olavo de Carvalho, guru do presidente.
Garcia é a principal força por trás da União Nacional dos Estudantes Conservadores (Unecon), pensada para ser uma voz do olavismo dentro do movimento estudantil.
Seu surgimento vem no momento em que Olavo trava uma queda de braço com representantes do Ministério da Educação que não seguem sua cartilha.
O guru tem força na pasta, e está demonstrando. Indicou a Bolsonaro o ministro Ricardo Vélez Rodríguez e nos últimos dias pressionou para que ele demitisse o número dois do MEC, Luiz Antônio Tozi, e o coronel-aviador Ricardo Roquetti de uma diretoria, porque seriam técnicos demais e tutelados pelos militares.
Olavo, diz Garcia, terá na Unecon uma aliada inconteste. “O professor foi muito importante na minha formação intelectual”, afirma, antes de citar de um só fôlego o nome de todos os livros do filósofo. Jovem pobre de direita, lamentar nunca ter tido dinheiro para fazer o curso online dele, que custa R$ 640 a anualidade.
Para o encontro de fundação da entidade são esperados 150 delegados do interior de São Paulo e estados como Minas Gerais e Ceará. A maioria ligada ao Direita SP, entidade liderada por Garcia, e ao Instituto Conservador.
Não querem substituir a UNE (União Nacional dos Estudantes), mas tomá-la por dentro, agindo como uma espécie de “partido” da direita estudantil. No curto prazo, pretendem controlar alguns centros acadêmicos e grêmios estudantis.
Nisso, pretendem se diferenciar do braço estudantil do MBL (Movimento Brasil Livre), dando apoio total a Bolsonaro. “O MBL muitas vezes é progressista nos costumes. Nós somos conservadores sempre”, diz Garcia.
A programação do encontro discutirá temas como “O envenenamento da juventude pelas ideologias totalitárias” e “A supressão dos estudantes conservadores nas instituições de ensino”. Haverá competição de debates, com prêmios (um deles é o livro “A Verdade Sufocada”, do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, reconhecido como torturador pela Justiça).
A UNE, controlada há décadas pelo PC do B, e os ambientes universitários de forma geral não toleram a direita, afirma Garcia. No final do ano passado, um grupo do Direita SP organizou uma marcha na USP para celebrar a vitória de Bolsonaro. Tiveram de sair do campus escoltados pela PM.
A plataforma da Unecon é impecavelmente bolsonarista/olavista. (Garcia se assume um “bolsominion com orgulho”, sem problemas com o tom pejorativo do termo). O primeiro alvo, claro, é o educador Paulo Freire, cuja influência, segundo ele, “produz analfabetos funcionais ao privilegiar o socioconstrutivismo”. “O cara chega na faculdade e não consegue fazer uma equação de segundo grau”, afirma.
Outras bandeiras são a regulamentação do ensino domiciliar, o aumento do número de colégios militares e, obviamente, o Escola Sem Partido.
Mas em ao menos um totem petista a Unecon não vai mexer: o ProUni. O máximo a que chega é defender que seja um programa temporário, e que a prioridade do governo seja voltada para a educação de base.
Estudante de Direito na Unip, Garcia é cria dos movimentos de junho de 2013. Aquelas passeatas despertaram seu gosto pelo ativismo, primeiro na sua “quebrada” na zona sul de SP, e depois em atos convocados pelo Facebook.
Em 2016 aproximou-se de Bolsonaro, criou o Direita SP e chegou a promover um bloco de Carnaval que apoiava abertamente a ditadura, o Porão do Dops, depois barrado pelo Ministério Público. No ano passado foi escolhido pelo PSL como um de seus candidatos à Alesp. Eleito com 74 mil votos, será o deputado estadual mais jovem na Casa.
Na periferia, diz ele, o sentimento conservador é dominante, mas a esquerda sempre monopolizou o discurso por falta de alternativa.
Agora é diferente, afirma. E desafia: “Vai lá na favela e pergunta o que as pessoas acham de o filho poder fumar maconha livremente, de abortar quando quiser, de o menino de 5 anos pode ser chamado de Mariazinha. Faz um teste”.