A nomeação de Ilona Szabó para o Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária fez a direita defensora das armas pegar nelas (no sentido figurado) contra o ministro da Justiça, Sergio Moro.

O conselho tem caráter meramente consultivo, e Szabó ocupará uma suplência. Ou seja, seu poder será bastante restrito, para dizer o mínimo.

Mas a notícia gerou pandemônio entre uma turma que sempre viu Moro como um aliado inconteste. Afinal, Szabó, colunista da Folha, é uma conhecida defensora do controle de armas. Ela é fundadora do Instituto Igarapé, que se dedica a estudar políticas de combate à criminalidade.

“Expandir o acesso e a disponibilidade de armas de fogo no país mais homicida do mundo e relaxar ainda mais os fracos controles existentes equivale a jogar mais lenha na fogueira”, escreveu ela em janeiro, ao comentar decreto do presidente Jair Bolsonaro que buscava facilitar a posse de armas de fogo.

Bene Barbosa, talvez o mais atuante militante pró-armas do país, expressou seu inconformismo nas redes sociais.

Bene, do Movimento Viva Brasil, retuitou um apoiador que ironizou a nomeação, dizendo que agora só falta colocar a deputada petista Maria do Rosário no comando do Bope. Ele também chamou Ilona de “inimiga”do governo Bolsonaro e criticou o fato de ela ter fotos ao lado do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do financista George Soros, conhecido por suas posições progressistas.

O MBL (Movimento Brasil Livre), também pró-armas, foi ainda mais incisivo.

Deputado federal e uma das lideranças do MBL, Kim Kataguiri (DEM-SP) diz que, se Moro nomeou Ilona de forma consciente (e não por indicação de alguém), é “decepcionante”.

“Uma coisa é ele [Moro] ter assinado, outra coisa é ter assinado com consciência do que estava assinando. Se houve ‘dolo’, é decepcionante. Se foi mera negligência, é reprovável, mas perdoável”, afirmou Kim.

O Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária é ligado ao Departamento Penitenciário Nacional –ou seja, não lida diretamente com a questão do controle de armas.

Segundo sua descrição oficial, é integrado por 13 membros designados pelo ministro, “dentre professores e profissionais da área do Direito Penal, Processual Penal, Penitenciário e ciências correlatas, bem como por representantes da comunidade e dos ministérios da área social”. O mandato dos membros tem duração de dois anos.

Procurei Ilona, mas ela não respondeu ao contato até a publicação desse texto.

A assessoria do Ministério da Justiça me disse que a indicação de Ilona ocorreu em razão de sua capacidade técnica, e que o conselho é amplo. Segundo a assessoria, é importante haver pluralidade de ideias e vozes num regime democrático.

(Atualização em 28/2, às 19h30: Pressionado, Moro recuou da nomeação, citando “repercussão negativa em alguns segmentos. Leia reportagem completa aqui).